Bio

Adão Iturrusgarai é cartunista, humorista, escritor e artista visual brasileiro vivendo atualmente entre Brasil e Argentina.

Publicou uma tira diária no jornal Folha de São Paulo de 1993 até 2023.

Foi roteirista de humor para vários programas de televisão da Rede Globo como Casseta & Planeta e TV ColOsso e trabalhou para dezenas de revistas do Brasil e do mundo como: Playboy, Sexy, Super Interessante, Internazionale, entre outras.

Tem mais de uma dezena de livros publicados com seus desenhos traduzidos para o inglês, espanhol, francês, italiano e alemão.

Seus personagens “Rocky & Hudson”, os caubois gays foram criados mais de uma década antes do filme Brokeback Mountain. Viraram longa-metragem em 1994 e em 2020 fora produzidos 13 episódios produzidos em con junto a Otto Desenhos Animados para o Canal Brasil.

Em 2011, Aline virou minissérie em live action para a televisão na Rede Globo

Hoje suas tiras são publicadas diariamente no jornal O Globo.

Além disso, produz duas charges mensais para o Canal Um Brasil, colabora mensalmente para a TMEO, revista em quadrinhos espanhola, e toda semana faz um cartum para El Estafador, publicação semanal de humor também baseada na Espanha.

Adão Iturrusgarai: estrangeiro entre fronteiras

O que define um artista? O que caracteriza precisamente a prática artística? Apenas com localização social e histórica é possível chegar em alguma categoria definidora, mesmo assim, provisória.

Desde as atividades de Marcel Duchamp, no início do século XX, ser artista podesignificar muitas coisas, nenhuma delas acabada e, mais importante, o que esse profissional produz não é passível de ser definido a priori, nem o designa. Uma pintura é realizada por alguém, torna-se, assim, artista? Um artista constrói um objeto, é arte? Essas brincadeiras de Duchamp revelaram-se bastante sérias porque mostram a complexidade das denominações e da tensa construção desse campo chamado arte. Depois de Duchamp, ser artista é correr risco: o artístico e o literal. Do ponto de vista do debate conceitual contemporâneo, os limites estanques confundem e são indesejáveis, já que muitos trabalhos apresentam sonoridades, performances, têm dimensão arquitetônica, política, implicam em uma relação de intervenção dos públicos, entre outros elementos, que resultam em indeterminação das linguagens específicas, sem que essas qualidades se transformem em negatividade ou impeçam sua compreensão como algo produzido no conjunto denominado de práticas artísticas: correr riscos.

Adão Iturrusgarai é um consagrado autor de quadrinhos, com visibilidade internacional e uma produção bastante transgressora do ponto de vista temático, além da marca gráfica e expressiva inquestionável. Essa zona de conforto paradisíaca poderia ser simplesmente aproveitada sem muito esforço. No entanto, sua obsessão comunicativa e afirmativa, inclusive por conta de seu trabalho em quadrinhos, impõe uma busca constante, de caráter experimental. Exerce e apresenta um olhar detalhista para o campo com o qual quer inserir seus trabalhos, as histórias das artes ocidentais, um lugar consagrado, hierarquizado, cristalizado, no qual mesmo a conceituação que amplia definições de práticas artísticas é tratada de forma estereotipada.

Iturrusgarai aponta sua expressividade iconoclasta para essas histórias e digere o que interessa para sua apropriação. Das matrizes construtivo-expressionistas, pinça a delicadeza de Paul Klee, sua motivação no trato com a cor em suas sutilezas, as pequenas ironias, uma musicalidade sutil. Também de Klee, parece brotar uma certa melancolia, afinal, aquele artista que apresenta elementos lúdicos é também autor de Angelus Novus (1920), densamente comentado por Walter Benjamin, como emblema da catástrofe. Nessa mesma ambiência construtiva, a referência de J. Torres-Garcia é um eixo: serve como bússola para as sínteses formais e políticas. Com Philip Guston, procura estabelecer um diálogo direto: sarcasmo, agressividade e posicionamentos políticos claros. Como marca pessoal, Iturrusgarai exerce um desrespeito para com as categorias. Todas devem e podem ser transgredidas, borradas, detonadas, destruídas, para novas reconstruções. As fronteiras não só existem para que possam ser ultrapassadas, são, antes, engolidas, pela condição estrangeira que o artista se impõe.
Não se restringe aos alinhamentos ao campo pictórico da história da arte ocidental e hegemônica, mas busca estabelecer – e isso fica claro em suas pinturas – contato com o universo contracultural, comportamental. Suas referências. Um pano de fundo no qual a música, o cinema, as ruas e atitudes entram em polifonia.

Mirtes Marins de Oliveira, 2019

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Mirtes Marins de Oliveira é crítica e curadora. Docente e pesquisadora no PPG Design- UAM. Publicações em “Cultural Anthropophagy: The 24th Bienal de São Paulo 1998” (Afterall, 2015); “Histórias das Exposições: Casos Exemplares” (Organizadora, EDUC, 2016), The feminist avant-garde. Art of the 1970s (SAMMLUNG VERBUND, 2017)